ESCOLHENDO O PROFISSIONAL DA SAÚDE

    A escolha criteriosa dos profissionais de saúde que irão acompanhar a gravidez, o parto e, posteriormente, o desenvolvimento de seu filho é atitude de fundamental importância, uma vez que dela dependerá toda a filosofia da profilaxia e do tratamento das patologias e intercorrências incidentes nos períodos de gestação, neonatal e da infância.

    Para o leigo que não tem noção de como funciona o complexo universo médico, muitas vezes é difícil obter parâmetros de avaliação do profissional e a escolha, freqüentemente, acaba sendo aleatória, baseada em aspectos subjetivos ou em empatia pessoal.

    Para fundamentar objetivamente a decisão, vou delinear os principais aspectos relevantes no treinamento e na atuação prática do profissional de saúde.

    RELAÇÃO MÉDICO-PACIENTE

    Um dos aspectos mais importantes do tratamento médico é o que chamamos de relação médico-paciente.

    Este vínculo de atuação dinâmica, que, por um lado, envolve o interesse humanístico do médico e, por outro, a confiança nele depositada pelo doente, é o maior elemento responsável pela efetividade de qualquer tipo de terapia clínica ou cirúrgica.

    O jovem profissional verdadeiramente interessado na recuperação de seu paciente pode, por vezes, conseguir resultado melhor do que o catedrático que, do alto do seu cabedal de conhecimentos, não consiga comunicar-se eficazmente.

    Se você utiliza os serviços profissionais de um médico e estabeleceu ótimo nível de relacionamento, fique com ele.

    O entendimento gera resultados que produzem satisfação, o que melhora o entendimento. Esta relação saudável é o melhor ambiente para o exercício da Medicina.

    Mas, se você ainda não escolheu o profissional e não conseguiu nenhuma indicação satisfatória, para ajudá-lo na decisão, discorrerei brevemente sobre os principais fatores que influem na formação do médico e na sua atuação clínica.

    Graduação

    Todo médico, para poder exercer a profissão, realiza um curso de Medicina, de duração mínima de seis anos.

    Espalhadas pelo Brasil, existem dezenas de escolas médicas, com níveis de qualidade de ensino bastante contrastantes.

    Em relação à maneira pela qual as escolas médicas se financiam, existem dois tipos de ensino: o público e o privado.

    Ao contrário do que acontece nos países de primeiro mundo, as escolas de Medicina sustentadas por verbas públicas são consideradas como entidades de ótima qualidade, geralmente associadas a Universidades responsáveis por produção científica de reconhecimento e repercussão internacionais.

    Esse fator, associado aos altos preços das faculdades particulares, faz com que muitos estudantes empreendam disputa de alto nível na busca de vaga nas escolas públicas. Os mais bem preparados conseguem as vagas.

    Por outro lado, muitos estudantes bem dotados preferem, por razões próprias, as escolas particulares, onde se formam ótimos médicos. Eis que reconheço válido o aforismo segundo o qual quem faz a escola é o aluno.

    Conhecer a faculdade na qual o médico realizou sua graduação é fator importante na escolha do seu profissional de saúde.

    Especialização

    Pela legislação brasileira, uma vez formado, qualquer médico tem o direito de exercer qualquer especialidade, orientado e limitado em sua atuação apenas pela sua consciência profissional.

    Isto não quer dizer que seja especialista no assunto.

    Se o médico recém-formado quiser exercer a neurocirurgia infantil ou realizar complexas cirurgias cardíacas, sentindo-se capacitado, tem todo o direito. De fato, muitos médicos, durante o curso de graduação, concentram suas atividades sobre determinada especialidade e, depois de formados, anunciam que só atuam naquela determinada área.

    Existe, portanto, grande diferença, por exemplo, entre o médico que exerce e anuncia a pediatria como especialidade e o médico portador de título de especialista em pediatria.

    Mas mesmo os portadores de título de especialista podem ter grandes diferenças em sua formação.

    Existem dois caminhos para se obter título de especialista. O primeiro e mais difícil é ingressando em programa de residência médica oficialmente reconhecido pelo Ministério da Educação.

    A residência médica reconhecida pelo ministério é um curso de pós-graduação correspondente ao mestrado. É desenvolvido em faculdades de Medicina que possuam não só docentes universitários com capacitação reconhecida para fornecer ampla estrutura teórica, como também instalações hospitalares de vanguarda, dando ao médico-residente a oportunidade de realizar, juntamente com os orientadores, pleno exercício da especialidade.

    O número desses cursos é bastante restrito no Brasil, uma vez que nem todas as faculdades têm as condições exigidas para oferecê-los. É por isso que, logo após conseguirem o diploma, os recém-formados se submetem aos exames de residência médica, tentando ingressar nos cursos de especialização mais conceituados.

    O médico que se especializa através do curso de residência médica tem como lastro toda uma infra-estrutura teórica e prática que garante que o seu treinamento foi supervisionado por especialistas e pesquisadores universitários do mais alto nível, em todas as áreas de atuação, dentro do campo de trabalho. O curso de residência médica tem, no mínimo, dois anos de duração e currículo básico definido pelo Ministério da Educação.

    A segunda maneira de obter título de especialista é através de concursos promovidos pelas sociedades de especialistas. O requisito que as sociedades geralmente exigem é um estágio de acompanhamento, em determinado período, por médico possuidor do título de especialista na área. Possuindo a declaração de estágio, o candidato submete-se a uma prova quase sempre constituída por testes de múltipla escolha e, se atingir a nota mínima, obtém o título da sociedade. São poucas as instituições capazes de oferecer programas de aperfeiçoamento ou infra-estrutura em condições excelentes para o preparo do profissional especializado nessas condições, onde nem sempre existe aquela mentalidade acadêmica rígida dos programas de residência médica. No entanto, do mesmo modo, continua valendo o aforismo.

    Assim sendo, a próxima coisa que o leigo deve fazer, ao escolher um profissional de saúde, é verificar se o profissional é realmente especialista na área, qual foi o treinamento recebido e em que entidade conseguiu o título.

    Experiência e atualização

    Como os anteriores, também este é campo difícil de ser avaliado.

    O médico saído recentemente do curso de especialização tem certa experiência na sua área condicionada ao ambiente universitário. Ao lançar-se no mercado de trabalho, muita coisa precisa ser adaptada às condições de trabalho no dia-a-dia, as quais dificilmente reproduzirão aquelas, por exemplo, da Universidade. Por outro lado, esse profissional deve estar atualizadíssimo em relação às constantes inovações e técnicas possibilitadas pelo avanço dos conhecimentos científicos.

    O médico no final de carreira, com certeza, terá enorme bagagem de experiência, que muito facilita a condução dos casos nas condições locais de trabalho. No entanto, se não se atualizar periodicamente, corre o risco de ter os conhecimentos defasados em relação aos colegas mais novos.

    A experiência é importante e a atualização, também. O mais racional é que haja equilíbrio de ambas, para que a Medicina e o auxílio ao paciente possam ser exercidos em sua plenitude.

    Condições de trabalho

    Para que o profissional de saúde tenha condições ótimas de trabalho, é indispensável dispor de infra-estrutura hospitalar adequada. Deste modo, antes de escolher o médico, procure saber em quais hospitais trabalha.

    A disponibilidade do profissional também é muito importante.

    É muito comum o médico morar em uma cidade e trabalhar em outra. Isto acontece tanto no serviço público como em muitos consultórios particulares. Procure saber o endereço do médico e se costuma atender os casos de urgência durante a noite e nos fins de semana. Geralmente, os médicos que dão assistência integral aos pacientes imprimem o número do telefone da residência no receituário e usam artefatos eletrônicos de localização a distância, como bips ou telefones celulares.

    Mesmo os que costumam dar assistência integral aos pacientes, eventualmente, podem não estar disponíveis em determinados momentos, por motivo de viagens ou congressos científicos. Neste caso, é importante o paciente poder dispor de uma retaguarda, caso o médico titular não seja encontrado. Muitos médicos se associam em equipes para suprir tais hiatos e se revezam durante as férias e os fins de semana, para que se atendam todas as urgências dos pacientes. Geralmente, quando se associam, os médicos procuram profissionais de formação semelhante, para que as condutas clínicas não sejam conflitantes. Procure saber se o profissional de saúde trabalha em equipe e qual a conduta recomendada aos pacientes, caso não possa ser encontrado em uma emergência.