Adorar em espírito significa adorar através dos atributos do espírito, ou seja, o sentimento, o entendimento, a alma e a fé. Analisemos separadamente a cada um deles.
Aqui, ao falar do “coração” Jesus não se refere ao órgão propulsor de sangue situado na caixa torácica, mas sim às emoções e sentimentos próprios da experiência humana. Através das emoções, homens e animais desenvolvem sentimentos ou “estados de espírito” como amor, felicidade, raiva, ódio, tristeza, alegria, cobiça, ciúme, piedade, desespero, ansiedade, medo, etc. As emoções podem ser entidades independentes ou inter-relacionadas; algumas são antagônicas e outras coniventes. É impossível sentir tristeza e alegria, ou amor e ódio ao mesmo tempo. Podemos sentir no entanto amor e alegria; medo e ansiedade; ou raiva e desespero. Ao proferir o seu primeiro mandamento Jesus deixou bem claro que o primeiro verbo a ser conjugado pelo crente é o verbo amar. Explicou bem claramente também a intensidade e o alvo desse amor.
“Amarás pois o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento e de toda a tua força”
Leiamos novamente Mateus, capítulo 12, versículos 33 a 37
“O homem bom tira do tesouro bom cousas boas; mas o homem mau do mau tesouro tira cousas más.”
Note que Jesus compara o coração, ou o sentimento do homem a um tesouro.
Geralmente o homem do mundo não dá muito valor aos sentimentos que alberga em seu coração ou às palavras que profere. Mas Deus dá muita importância ao que se passa no coração do homem, chamando os sentimentos de tesouro. O verdadeiro tesouro é o amor a Deus. O sentimento de amor a Deus é tão importante, que tornou-se o principal mandamento de Jesus, e é o maior e verdadeiro tesouro que o homem pode ter. Simples, não é? Mas vamos complicar um pouco.
Poeticamente a sede das emoções é o coração.
Biologicamente a sede das emoções são estruturas neurológicas localizadas na base do cérebro denominadas conjuntamente de “sistema límbico”.
O homem tem uma variedade muito grande de diferentes emoções, que podem ser elaboradas pela sua estrutura lingüística, mas basicamente as emoções estão relacionadas a dois núcleos básicos que desencadeiam duas reações básicas: prazer e desprazer (sentir-se bem e sentir-se mal).
Quando falamos em “amor” estamos nos referindo a uma emoção básica que pode ser vivenciada de maneira completamente diferente e única, por cada ser humano.
Mesmo em uma mesma pessoa, esta mesma emoção pode ser vivenciada de maneira diferente em relação a cada objeto amado.
Como definir então exatamente o que é o “amor”?
Biologicamente o “amor” é desencadeado por uma associação de eventos e informações que culminam com a liberação biológica de determinadas substâncias (neurotransmissores) a nível do sistema límbico (estruturas do cérebro que regulam as emoções), que estimulam as áreas neurológicas do prazer.
A resultante final é uma sensação de “bem-estar”.
De maneira nada poética, podemos definir psico-biologicamente o verbo “amar”, como a capacidade de “sentir-se bem” na presença do objeto amado.
A intensidade e a maneira de vivenciar o amor varia de pessoa a pessoa e de situação a situação, mas em todos os momentos caracteriza-se por um núcleo comum: “bem-estar”.
Esta sensação de “bem-estar” pode ser elaborada racionalmente de diferentes maneiras, como: amizade, paixão, compaixão, amor, adoração, felicidade, alegria, paz, altruísmo. Este é o “o bom tesouro” do homem.
Da mesma maneira as emoções que culminam nas áreas de desprazer são vivenciadas como uma sensação de “mal-estar”, ou serem interpretadas como “sentir-se mal”. São as emoções interpretadas como: ódio, ira, inveja, ciúme, cobiça, tristeza, ansiedade, egoísmo, infelicidade. São o “o mau tesouro” do homem.
Note que Jesus não definiu o homem bom como aquele que só possui o “bom tesouro” no coração, nem definiu o homem mau como o que possui somente o “mau tesouro”. Todos os homens possuem o “conhecimento do bem e do mal” e portanto tem dentro do coração tanto o bom como o mau tesouro. A diferença é que o homem bom oferece o seu bom tesouro, e o homem mau oferece seu mau tesouro.
Os sentimentos às vezes não significam nada para o homem, que não se preocupa em cultivá-los e permite que toda espécie de erva daninha cresça no terreno de seu coração, mas para Deus, nossos sentimentos são “tesouros” classificados, e por eles o Senhor também nos classifica em “bons” e “maus”. Deus sabe o que quer, e o que Ele quer é o nosso amor. O nosso “bom tesouro”.
Amar a Deus de todo o coração significa amá-lo de todo o sentimento, não deixando lugar para outras emoções que não sejam derivadas do amor. Toda vez que deixamos más emoções invadirem a sede de nosso sentimento, estaremos deixando de amar a Deus, e conseqüentemente nos afastando dele e caminhando em direção ao pecado.