PASSO A PASSO DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL
Estimulando o desenvolvimento de nove a doze meses

    A partir desta fase, costumamos observar grandes diferenças de desenvolvimento entre os bebês. Enquanto alguns podem estar ensaiando os primeiros passos aos nove meses, outros só começam a tentar depois do primeiro aniversário. As diferenças podem ser atribuídas ao ritmo próprio de amadurecimento de cada ser humano, à qualidade da estimulação prévia, à prematuridade ou às intercorrências clínicas, não devendo, como regra geral, constituir motivo de preocupação para os pais.

    A fase é muito rica em termos de conquistas neurofisiológicas. A mielinização (amadurecimento) dos nervos periféricos se completa, propiciando melhor percepção dos estímulos táteis e do controle motor, aperfeiçoando substancialmente a qualidade da manipulação e da locomoção. As áreas de especialização do cérebro estão melhor definidas, propiciando o reconhecimento e classificação dos estímulos sensoriais. É sobretudo nesta fase que as conexões entre as diferentes áreas de especialização começam a ser feitas, principalmente entre o lobo frontal (que tem a função cognitiva, ou seja, de raciocínio) e os centros emocionais primitivos, iniciando o processo de elaboração dos sentimentos.

    A criança começa a demonstrar, por exemplo, medo de pessoas estranhas, a apegar-se afetivamente a panos, travesseiros e bichos de pelúcia, ou a desenvolver os famosos traumas de infância, que nada mais são que experiências desagradáveis associadas a determinadas situações específicas e que despertam, de modo automático, emoções aparentemente injustificadas e exageradas na idade adulta.

    Ao mesmo tempo que começa a conquistar o seu espaço tridimensional, a criança define relações familiares e afetivas, estrutura a comunicação não-verbal efetiva, começa a elaborar os sentimentos e adquire capacidade representativa. A maioria das conexões cognitivas está estruturada, iniciando-se a etapa de aperfeiçoamento dos recursos cerebrais adquiridos. O processo de exploração e descoberta do mundo que se segue será período de intenso e prazeroso exercício mental que, se adequadamente estimulado e supervisionado, poderá resultar no aproveitamento máximo do potencial intelectual da criança.

1. O brinquedo é fundamental.

    É através do brinquedo que a criança elabora em sua mente os fatos e acontecimentos da vida real. Ele serve como ferramenta de transposição do concreto para o abstrato, estimulando a interpretação dos rituais domésticos e a busca de referenciais e significados. Os melhores são os que permitem interação indireta com os pais, como os fantoches e bonecos. Quanto maior a variedade de formas, materiais e estruturas, mais oportunidades terá o cérebro de exercitar a capacidade de administrar informações. Brinquedos de encaixar auxiliam o domínio do tridimensional. Brinquedos interativos, como os chocalhos, reforçam a atitude exploratória.

    Nesta fase, é redundância falar em brinquedo educativo, pois todos os brinquedos (mesmo as sucatas) contribuem de uma forma ou de outra para o exercício do desenvolvimento cerebral e podem, portanto, ser considerados educativos.

2. A paciência é primordial.

    Crianças desta idade começam a solicitar a repetição indefinida de jogos e atividades estimulantes (para elas), o que, para os adultos, não tem a mínima graça, desde a brincadeira de jogar ao chão objetos para serem apanhados pelos adultos, até a repetição, seguidas vezes, das mesmas histórias infantis. Repetir é importante para a estabilização das redes neuroniais, mas não deve ser exagerada. Muitas vezes, ao iniciar um ciclo de repetição de determinadas atividades, a criança não consegue interromper o que está fazendo e começa a ficar angustiada, necessitando da intervenção do adulto para parar. Os pais devem atender às solicitações na medida do possível, ter paciência, tempo e disposição para participar das brincadeiras e sensibilidade para reconhecer o momento certo de parar as atividades.

3. O emocional pode fazer parte do jogo.

    Uma das funções dos brinquedos é trabalhar o aspecto emocional. Quando os pais compreendem este fato, podem utilizar o brinquedo como instrumento educacional dentro das mais variadas perspectivas. Algumas crianças, inclusive, se apegam de maneira temporária ou permanente a determinados objetos ou brinquedos, que passam a representar aspectos e situações afetivas a transmitir segurança, amor e proteção. Os objetos transicionais têm importante papel na elaboração dos recursos psicológicos que permitem que o ser humano consiga libertar-se dos instintos primitivos e assumir posturas e atitudes racionais coerentes com seus interesses.

    Durante a primeira infância, principalmente quando é amamentada ao seio, a criança estrutura em sua mente a chamada figura principal, ou seja a mãe que nutre, conforta, acaricia e traz segurança. Depois de alguns meses de vida, a figura principal nem sempre estará disponível para suprir as necessidades psico-afetivas da criança e, como esta não tem capacidade elaboradora para sentir-se bem sozinha, a sua primeira atitude será eleger um bicho de pelúcia, um travesseiro ou um pedaço de pano macio para representar a sua figura principal, obtendo, através desse objeto transicional, a segurança obtida através da presença da mãe. Chamamos de objeto transicional justamente porque auxilia na transição entre o estado de completa dependência afetiva com a figura principal, para um estado de relativa independência emocional.