Estimulando o desenvolvimento neurológico do lactente
Objetivo da pedagogia do lactente

    O objetivo principal das técnicas de estimulação não é o de ensinar ao lactente um conteúdo específico de conhecimentos e, sim, o de fornecer estímulos sensoriais que, adequadamente trabalhados pelo sistema nervoso central, possam contribuir para a estruturação de recursos intelectuais que, mesmo não utilizados operacionalmente nesta fase da vida, serão muito valiosos no futuro.

    Uma das maiores discussões que tem envolvido especialistas das áreas de psicologia, pedagogia e neurofisiologia é a provocada pela controvérsia a respeito da idade ideal para iniciar o ensino formal e a alfabetização da criança. Se, por um lado, os neurofisiologistas clamam que quanto mais cedo melhor, em função da época de estruturação neuronial, que vai só até os seis anos, os psicólogos alertam contra os riscos das chamadas crianças apressadas, que desenvolvem as chamadas síndromes de estresse, em função da cobrança familiar e dos desajustes advindos, por exemplo, da convivência com crianças maiores, em classes mais avançadas. A chamada criança apressada - criança estressada é aquela criança submetida a técnica de ensino repleta de hiatos, nas quais o objeto de estudo é ministrado sem que os recursos mentais necessários para a sua elaboração tenham sido estruturados. Isto sujeita a criança a uma cobrança de resultados acima de sua capacidade imediata, redundando em estresse.

    O maior problema, quando se discute o assunto estimulação precoce, é a falta de técnicas adequadas e de conhecimento estruturado sobre o funcionamento intelectual que considere conjuntamente os fatos neurofisiológicos, neurolingüísticos, psicológicos e pedagógicos. Sempre que o tema for discutido em uma única disciplina, aspectos fundamentais deixarão de ser considerados.

    Desta maneira, pudemos presenciar o desenvolvimento de técnicas de estimulação que se preocuparam apenas em apresentar mais precocemente o assunto à criança, sem prévia avaliação dos recursos intelectuais disponíveis para assimilar o que se pretendia ensinar e sem, tampouco, a preparação desses recursos. Neurolingüisticamente, poderíamos dizer que a mensagem verbal é enviada sem a certeza de que existiria estrutura não-verbal conveniente para fixar e traduzir verbalmente a mensagem. Os resultados foram surpreendentes e contraditórios. Se, por um lado, se descobriu que as crianças têm potencial muito maior do que se imaginava, por outro, verificou-se que o potencial, para ser aproveitado, precisa ser preparado.

    Dentro deste fascinante mundo, os adultos puderam perceber o valor dos brinquedos e brincadeiras infantis como elementos estruturadores da inteligência não-verbal e, conseqüentemente, do raciocínio lógico-verbal que se segue. No contexto, os pesquisadores puderam verificar também que os adultos têm papel essencial na formação do pequeno universo que é o inconsciente infantil e que a qualidade da atenção dispensada à criança é um dos principais fatores estruturadores dos recursos intelectuais e emocionais.

    Quando falo em pedagogia do lactente, meu objetivo é bem diverso da assim chamada estimulação precoce. Ao contrário desta, que busca resultados, o que procuro é a estruturação de recursos, para que os resultados possam ser obtidos de maneira equilibrada, desenvolvendo plenamente todo o potencial intelectual e emocional do ser humano.